O meu desejo é fugir.
Fugir ao que conheço,
fugir ao que é meu,
fugir ao que amo.
Desejo partir, não para as Índias impossíveis,
ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo,
mas para o lugar qualquer
aldeia ou ermo
fugir ao que é meu,
fugir ao que amo.
Desejo partir, não para as Índias impossíveis,
ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo,
mas para o lugar qualquer
aldeia ou ermo
que tenha em si o não ser este lugar.
Quero não ver mais estes rostos,
estes hábitos e estes dias.
Quero não ver mais estes rostos,
estes hábitos e estes dias.
Quero repousar,
alheio do meu fingimento orgânico.
Quero sentir o sono chegar como vida,
e não como repouso.
Uma cabana à beira mar,
uma caverna, até,
no socalco rugoso de uma serra,
me pode dar isto.
Infelizmente só a minha vontade
não pode dar.
uma caverna, até,
no socalco rugoso de uma serra,
me pode dar isto.
Infelizmente só a minha vontade
não pode dar.
Fernando Pessoa do livro do Desassossego
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